Overkill traz um merecido renascimento de House of the Dead no Wii.

The House of the Dead: Overkill traz para o Nintendo Wii — que andava um tanto desacreditado para qualquer coisa que não fosse first party — uma ótima introdução para a história desvelada no primeiro título da série, lançado em 1996. Na bagagem, tudo o que construiria um ótimo filme “B”: humor escrachado, litros de sangue pútrido, violência exagerada e um sujeito que diz “f**k” a cada duas ou três outras palavras.

Espera, mas ainda falta algo... Ah, sim, os estereótipos. O que seria de um “filme B” sem personagens batidos e cenários previsíveis? Sim, você ainda vai poder encontrar em Overkill o que de mais visceral construiu a filmografia de John Carpenter ou Sam Raimi.
Tudo absolutamente grindhouse: o hospital fétido, a mulher “virtuosa”, o policial estressado que jura vingança e, finalmente, o médico maluco e visionário que pretende transformar a humanidade em um amontoado de zumb... opa... mutantes — “jamais use aquela palavra com ‘z’”, segundo recomendação do singular agente Isaac Washington. No mais, é tudo o que você já deve esperar: dispare o mais rápido possível, antes de acabar com um mutante pendurado no pescoço.
Aprovado
Do que gostei:
Uma história que seria ruim em qualquer outro lugar
The House of the Dead: Overkill traz uma típica história de filme “B”; aquelas que, de tão toscas, acabam sendo engraçadas e até interessantes. Trata-se aqui de um conjunto de estereótipos e animações (propositalmente) de má qualidade que pretendem contar os eventos que animaram as coisas antes do primeiro The House of the Dead.
Como elementos centrais, o jogo traz o policial Isaac Washington e o ainda recruta Agent G — cujo “G” é constantemente alvo de piadas ao longo do jogo. A própria união improvável dos dois, absolutamente distintos entre si, já é capaz de trazer algumas das cenas mais hilárias do jogo. Mas, para completar, surge ainda o típico “médico louco”; a ideia aqui acabar com os planos do excêntrico cientista Papa Caesar.
Cada missão dentro do jogo é anunciada com um inconfundível pôster de filme “B” — uma herança direta de Left 4 Dead? São imagens absolutamente estereotipadas, cada qual com um título ainda mais ressonante: “Papa’s Palace of Pain”, “Ballistic Trauma” ou “Scream Train”, apenas para citar alguns.
Lá pelas tantas, surge ainda mais um estereótipo, esse absolutamente imprescindível. Trata-se de Varla Guns, uma ex-stripper cujas “virtudes” são bem maiores que as roupas. Por fim, cada qual à sua maneira — Washington e Varla buscando vingança, Papa Caesar tentando dominar o mundo, Agent G buscando... seja lá o que for —, os personagens acabam compondo uma trama que, por si só, já faz valer a pena uma conferida em Overkill.
Sim, on rail, e não é ruim
Muita gente torce o nariz imediatamente após ouvir o termo “on rail”. Quer dizer, isso significa que você não terá absolutamente nenhum controle sobre os movimentos do personagem, limitando-se, em vez disso, a controlar um diminuto alvo que perambula pela tela — ou a digitar pateticamente o nome dos monstros que aparecem. Mas, ei! Isso pode ser divertido.

Quando terminar a experiência normal do modo história, você ainda terá pela frente os desafios bem mais intensos do modo Director’s Cut — que inicialmente aparece bloqueado com a sugestiva tarja “Comming Soon”. Aqui as coisas ficam bem mais interessante. As fases ganham trechos novos (já que trazem cenas inicialmente deletadas), e o número de mutantes é bem maior. Por fim, caso você ache os níveis padrão um tanto fáceis demais, esse sem dúvida é o seu modo — embora você tenha que passar por todo o resto primeiro.
Deixa que esse aí é meu!
Jogar Overkill no modo single player é divertido. Mas, cá entre nós, as coisas ficam muito mais insanas quando se encontra alguém para controlar uma segunda mira pela tela. Jogar em modo cooperativo é realmente muito mais divertido. A ideia é tão simples quanto deveria ser: o caminho seguido “on rail” permanece o mesmo, embora agora os mutantes sejam simultaneamente metralhados por dois agentes insanos ao mesmo tempo.
No mais, ainda é possível dividir com três outros jogadores os minigames do jogo. Em Money Shoot II, você se sente em um autêntico parque de diversões de décadas anteriores; a ideia é simplesmente disparar contra os alvos, eventualmente evitando bombas. Já Staying Alive coloca você, um timer, e dezenas de zumbis em um cenário; sobreviva enquanto puder. Por fim, Victim Support vai colocá-lo em uma posição inatingível, já que a ideia é proteger vitimas desprotegidas (e desmioladas) que tentam atravessar um corredor infestado de mutantes.
Arrancando membros e explodindo cabeças
De maneira geral, os controles do Wii funcionam satisfatoriamente na maior parte do tempo. Você mira, atira, atira e atira de novo sem maiores problemas. A física que controla a sanguinolência toda também não faz feio: atire no lugar certo, e um membro vai pelos ares, ou uma cabeça explode.
O bom trabalho da física de Overkill aparece também quando se utiliza um “power-up” capaz de conter o andamento do jogo. Em câmera lenta, as coisas ficam realmente interessante, e é possível perceber o bom trabalho da física conforme miolos e membros são espalhados, lenta e horrivelmente, através do cenário. Ótimo, realmente.
Mas é claro que o arsenal clássico disponível também ajuda a elevar o patamar de violência no jogo. São pistolas, submetralhadoras, escopetas e granadas que transformam o ato de espalhar vísceras pela tela em uma arte.
O estilo em primeiro lugar

E, para complementar, o jogo ainda traz uma vasta coletânea de conteúdos extras, incluindo artes conceituais, modelos em 3D e as músicas que criam o clima durante a ação. A propósito, Overkill traz uma das melhores trilhas sonoras entre os jogos recentemente lançados. Cada fase aqui traz um tema “vintage” absolutamente adequado ao clima do jogo.
Tratando-se ainda de som, o trabalho dos dubladores em Overkill não apenas é primoroso, como também é parte do que torna o jogo realmente hilário em alguns pontos. Seja na narrativa dos policiais, ou no absolutamente idiossincrático tom de voz “pigarreante” do narrador, a todo o momento você se sente transportado para dentro de um filme de terror dos anos 70/80.
Reprovado
Do que não gostei:
Então é isso? Ele já morreu?!?
Eventualmente, alguns jogadores mais, digamos, proficientes em jogos “on rail” podem acabar achando as coisas tremendamente fáceis durante o modo história principal, já que mesmo boa parte dos chefes não traz um desafio muito expressivo. E mais, caso você jogue cooperativamente, essa dificuldade ainda cai pela metade. O modo “director’s cut” — com fases mais longas e maior número de zumbis — remedia um pouco esse ponto.
Câmera lenta não planejada
Embora os gráficos em Overkill sejam plenamente satisfatórios para os padrões do Wii, o jogo volta e meia pena um bocado com quedas de FPS (taxa de quadros por segundo). Além de conter um pouco o embalo do jogo, esses momentos ainda podem prejudicá-lo caso você esteja cara a cara com um mutante. Sem dúvida um viés um tanto oblíquo para tornar as coisas um pouco mais desafiadoras — sim, isso foi uma brincadeira.
Poderia durar mais
Realmente não seria nada mal se a desenvolvedora Headstrong Games colocasse mais uns dois ou três cenários estereotipados na bagagem de Overkill. O modo história realmente passa muito rápido, e o Director’s Cut não adiciona tanta coisa nova assim.
Conclusão
The House of the Dead: Overkill realmente não é um jogo perfeito. Entretanto, o bom trabalho da Headstrong no que diz respeito à trama, à ambientação e ao bom humor característicos da série faz do título um ótimo pontapé inicial para a franquia no Wii — até por que, o mediano 2&3 deixou muita gente na dúvida.

Enfim, se a sua ideia de diversão envolve personagens estereotipados, narrativa tão tosca quanto divertida e chuvas de balas, então Overkill pode mesmo ser o seu jogo. Nesse caso, com ou sem Wii Zapper, o negócio é estourar cabeças e espalhar vísceras.
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