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sábado, 15 de janeiro de 2011

Nail'd-Ps3


Alguns jogos de video game, mesmo representando uma ficção, tratam com algum respeito as leis que condicionam o mundo do lado de fora da magia gráfica dos consoles. É só se lembrar de jogos como Gran Turismo, Forza Motorspot e tantos outros que infundem bastante seriedade na ideia da simulação — excluindo-se, talvez, os famigerados flashbacks que têm se tornado cada vez mais populares... Enfim.
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Mas também há a outra ponta do espectro: jogos que abraçam completamente as possibilidades irreais permitidas por um game e, deliberadamente, chutam as partes pudendas de Isaac Newton e Cia. Desnecessário dizer que é exatamente esse o caso de nail’d, um jogo que se parece mais com uma montanha-russa sem trilhos do que com uma competição off-road típica.
Só que, justiça seja feita, não se trata de uma ideia propriamente original. Na verdade, a desenvolvedora Techland bebe da mesma fonte que alimentava a leva de jogos baseados mais em doses maciças de adrenalina do que nas leis da física — basta se lembrar das cabines extremamente disputadas de Offroad Thunder.
O problema é que esse ideal de velocidade descomplicada e de ação vertiginosa já anda fora de moda há algum tempo, o que, por si só, já colocaria nail’d em um nicho bastante restrito, composto sobretudo por saudosistas e, quem sabe, um ou outro jogador casual. Isso se a matriz original dos anos 80 e 90 fosse realmente respeitada, o que nem sempre é verdade aqui.
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Entre os belos cenários, velocidade extrema e propensão para quedas livres, nail’d não deixa de se equivocar no tratamento que normalmente envolve um bom jogo de arcade offroad. Praticamente não há rotas alternativas, as mecânicas exageradamente fáceis tornam a experiência um tanto maçante após algumas poucas horas de jogo e, como se não bastasse, o seu veículo — uma moto ou um quadriciclo — tem o péssimo costume de explodir sem motivo aparente. Vamos aos detalhes.

Aprovado

Frio na barriga
Img_normalSe existe um ponto em que nail’d realmente obteve sucesso foi na capacidade de provocar vertigens e frios na barriga. É realmente o extremo do arcade: saltos gigantescos, velocidade insana e uma topografia tão acidentada que faria os Cárpatos parecerem quase uma planície — com algum exagero, talvez.
E essa experiência se torna ainda mais insana com o modificador “Boost Madness”, que libera uma carga infinita de nitro, tornando os seus movimentos quase aleatórios — tente acertar a direção da próxima curva se puder!
Mas o ponto alto aqui são realmente os saltos. Sem exagero, algumas pistas são percorridas mais pelo ar do que por terra. Até porque, o desapego de nail’d com as leis da física permite deturpações como a que permite o funcionamento do guidão mesmo quando se está em queda livre, mais ou menos como o princípio que fazia com que Sonic e Mario mudassem de direção mesmo durante um pulo. Enfim, é impossível não deixar sair uma boa dose de stress com isso.
Cartão postal dinâmico
Nail’d talvez não traga os melhores gráficos da atual geração, mas certamente traz algumas das vistas mais pitorescas de que se tem conhecimento em um video game. Senão, faça a experiência: salte de uma das rampas mais “proeminentes” em uma pista.
Durante o tempo de queda livre você pode: (a) ler a biografia completa de Mao Tsé-Tung ou (b) absorver as belas paisagens fornecidas pelas encostas de uma colina ou por uma região costeira. É claro que o seu deslumbramento pode ser sumariamente interrompido por uma explosão praticamente arbitrária do veículo (mais detalhes no tópico “Combustão espontânea”).
Cuidado com os arranhões se você for uma mulher...
Ok, nail’d não traz exatamente uma profusão de opções de personalização. Mas também não faz feio, sobretudo para um jogo arcade. Após optar por uma moto ou por um quadriciclo, você poderá ainda escolher diversos modelos de motor, guidão, amortecedores, rodas, etc., cada um com vantagens e desvantagens para o desempenho do veículo — o que é claramente mostrado através de um gráfico de barras no qual são dispostos cada um dos atributos. Também é possível escolher as cores de cada parte individualmente.
Img_normalE, sim, também há a possibilidade de conferir a sua assinatura ao visual do piloto quase suicida que vai representá-lo nas pistas insanas de nail’d. Entretanto, há algo de cômico aqui: embora seja possível escolher o gênero do seu piloto (masculino ou feminino), é notável a diferença entre os “uniformes” de cada um.
Embora um homem apareça trajando um macacão típico para pilotagem —devidamente fechado para proteger de eventuais tombos ou do fogo —, uma mulher aparecerá com um traje minúsculo composto pela parte superior de um biquíni, uma blusa das mais improváveis para ocasião e uma calça bastante... Agarrada. Enfim, parece que a abordagem “exploratória” de Dead or Alive Xtreme 2 gerou frutos.

Reprovado

Faltaram rotas alternativas
Explorar terrenos acidentados é sem dúvida um dos maiores atrativos em um título Off-Road. Quase uma tradição, na verdade. Mesmo no longínquo 1997, Top Gear Rally (Nintendo 64) trazia inúmeras rotas alternativas pelas quais um piloto particularmente arrojado poderia tentar a sorte. E isso era demais! Um diferencial mais do que necessário para que se criasse um nicho próprio para o gênero.
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Bem, embora nail’d tenha absorvido muito do legado desses pioneiros, esse ponto foi acachapantemente deixado de lado. Mesmo com a ilusão causada pela amplitude dos cenários, existem de fato bem poucas opções de percurso aqui, de forma que a maior parte das suas tentativas deve terminar em explosões sumárias seguidas de um respawn bastante frustrante (confira o próximo tópico).
Combustão espontânea
A cena é bastante recorrente: você termina uma curva terrivelmente acentuada, salta alguma coisa e, ao aterrissar, o seu veículo explode sem absolutamente nenhum motivo aparente — como se houvesse nitroglicerina no tanque. O mesmo pode acontecer quando se passa de um estilo de terreno para outro — da lama para uma plataforma de metal, por exemplo —, e também em uma série de outras ocasiões no mínimo frustrantes.
Img_normalIronicamente, o respawn incluído em nail’d deveria servir como um recurso para facilitar a vida do jogador. A concepção básica seria: sempre que uma manobra ou escolha de direção se mostrar irremediavelmente catastrófica, o jogo seria rapidamente interrompido e você apareceria magicamente na pista após uma breve explosão. A boa intenção é óbvia: manter o fluxo de adrenalina constante, com um mínimo de interrupções.
Mas como dizem, “de boas intenções o inferno está cheio”. De fato, o respawn  de nail’d é das coisas mais frustrantes do título, sobretudo quando a sua moto vira carvão unicamente por que você resolveu tentar o que obviamente se parecia com uma rota alternativa. Pois é, mesmo sendo plataforma de pedras perfeitamente utilizável, não será possível utilizá-la, já que isso provavelmente não foi previsto pelos desenvolvedores. O resultado é sempre o mesmo: uma reação alquímica que transforma metal imediatamente em carvão.
Curva de aprendizado praticamente inexistente
Inicialmente nail’d representa um desafio considerável, sobretudo se você não for escolado nas mecânicas típicas de jogos de corrida Off-Road. Só que isso muda. E muda rápido demais. No momento em que você tiver decorado a topografia das pistas e a utilização de rampas e boosts de velocidade não foram mais um desafio... Acabou.
Sim, o jogo se torna progressivamente mais difícil com o tempo. O problema é que o desafio de guiar os veículos — que normalmente envolveria acostumar-se às limitações físicas para tirar o máximo de cada máquina — é praticamente nulo. No máximo você conseguirá deslocar a retina em razão das sequências inacreditavelmente rápidas de imagens.Isso acaba por tornar nail’d rapidamente enjoativo.

Vale a pena?

Nail’d é uma espécie de homenagem tardia aos títulos que dominaram os fliperamas e consoles durante os anos 80 e 90. É uma infusão concentrada de adrenalina que deixa tudo mais de lado: leis físicas, questões de mecânica, a resistência do corpo humano a quedas com mais de 20 metros, etc.
Se isso é divertido? Com certeza que é. Só que não vem sem algumas falhas, como a frustrante falta de rotas alternativas e possibilidades de exploração do terreno — sem falar na consequência óbvia disso: a explosão sumária do seu veículo. Além disso, a Techland parece ter reforçado a velocidade e os saltos insanos em detrimento das habilidades individuais do jogador.
Entretanto, verdade seja dita: nail’d pode sim ser um jogo divertido. Talvez não por muito tempo, mas pode. Quer dizer, embora não justifique o hype criado antes do lançamento, ainda é uma bela possibilidade para quem andava saudoso de títulos como Top Gear Rally e Offroad Thunder. Além do que, dizem que quedas livres são ótimas para aliviar o stress...

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